29 dezembro 2009

Sonho Romântico

Não sei se quando estamos acordados podemos chamar de sonho, mas hoje veio algo na minha mente meio louco. Eu tinha 19 anos em 1968, flores nos cabelos compridos e ideias na cabeça. Eu tinha um broto (haha).. um broto legal, ele compartilhava as minhas ideias e tinha a mim também. A tarde, ele me chamaria pra passear no seu Austin Healey Mark, de 67, sem sentir o tempo passar, ouvindo Beatles pelo caminho até o meio do nada. Lá encontraríamos nossos amigos. Perto do sol e do mar, ouviríamos um som de um violão agradável. Nossos assuntos seriam a Guerra do Vietnã, o cabelo do Paul McCartney e o que aconteceu com nossos amigos repreendidos pela Ditadura Militar. Um de nossos camaradas faria um discurso sobre como somos fúteis por estar ali conversando ao invés de lutar pelos nossos ideais, nós concordaríamos e nos proporíamos a mudar o mundo com belas palavras. "Sejamos realistas: exijamos o impossível!", "Faça amor, não faça guerra!".. E no fim, o capitalismo venceria no exato momento em que comprássemos clandestinamente num sebo qualquer, um livro de Marx por alguns cruzeiros novos. Alguém que conhece alguém diria que Wilhelm Reich era interessante e defendia a nossa luta pela liberdade sexual. Sim, sim! Seríamos livres, mas eu seria livre só pra "ele" e "ele" pra mim. Alguém diria: "que tal um pouco de Bob Dylan e Joan Baez? Se colocarmos baixinho, talvez os homens não escutem!" .. E assim passaríamos a tarde discutindo sobre as filosofias mais loucas e as formas de ver o mundo, confrontando Deus com a ciência e a poesia e transformando tudo isso no nosso mais louco alucinógeno. Depois disso tudo, nós iríamos ver o por do sol ao som de Roda Viva, lado A do terceiro LP de Chico Buarque e nada mais importaria. Meu broto e eu pararíamos o Austin Healey na futura e então pacata Barra da Tijuca, cheia de mato e ele me diria que ali no meio do nada construiria uma casinha pra gente morar e ensinar nossos filhos a amar a natureza. "Quanto mais faço amor mais sou revolucionário. Quanto mais sou revolucionário, mais faço amor." E naquele momento, ele e eu, faríamos a revolução mais psicodélica do mundo! Voltaríamos as pressas pra casa, pra que meu pai não reclamasse a noite inteira. Nos despediríamos escondidos e com uma promessa de ir ao III Festival Internacional da Canção só pra ouvir Caetano cantar. Chegando em casa, mamãe estaria vendo A Feiticeira e desejando arrumar a casa como Samanta e ser linda como Elizabeth Montgomery. Eu iria pro meu quarto rir daquilo. Um pedrinha na janela no meio da madrugada seria o sinal, meu broto iria pra lá e eu dormiria nos braços dele, ouvindo ele cantar pra mim Don't Worry Baby, dos Beach Boys e ali nada poderia me afetar. Mas aí, tive um pesadelo onde o mundo não se preocupava com mais nada, não haviam flores, nem cabelos grandes, ninguém ouvia Beatles e a música preferida era um monte de barulhos incômodos, liberdade sexual era bem explícita nas boates em qualquer madrugada de sábado, e as pessoas não se encontravam mais na beira da praia pra conversar, tudo era feito através de uma tela, e os sonhos não eram vividos e sim escritos em um blog idiota.. =( "The dream is over" (John Lennon)

4 comentários:

Andrea disse...

De fato a internet nos torna cada dia mais frios.
Daqui a 5 dias espero os meus votos de felicidade pelo orkut, sms...Nem o telefone, onde se pode sentir a verdade na voz é mais utilizado.

O mundo é cruel.

Raphaelfrf disse...

Que pena...

"the dream is over..."

falou tudo..

"Sejamos realistas: exijamos o impossível!"

falou tudo denovo...

Anônimo disse...

E mais uma vez se cumpre o que está escrito. Mas aonde fica o livre arbitrio de cada um? Do que vale presenças robóticas? .. Eu tbm fiquei sem entender.

RRR disse...

há casos e casos...
ainda vão existir aqueles que vão te ligar no seu aniversário, que vão querer te encontrar para lhe dar os parabéns, levar presentes e olhar nos teus olhos com um brilho no olhar...

E as presenças robóticas...
Importantes para quem tem uma irmã morando longe e sente saudade... importante para saber as novidades mesmo estando longe, saber que alguém está feliz seja lá onde essa pessoa esteja... não preciso escrever uma carta que chegará daqui a 30 dias, muitas vezes tarde d+ comparado a velocidade do pensamento e mudança de comportamento e decisões perante diferentes situações...

Presença robótica é como ter um software em sua vida para alguns, para outros é só uma ferramenta útil para manter contato com pessoas que vivem e estão presentes dentro de nós e em nossas orações